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03/12/2025
Roer unhas, organizar brinquedos sempre da mesma forma, balançar as pernas constantemente ou insistir em rituais específicos antes de dormir fazem parte da rotina de muitas crianças. Essas ações repetitivas, conhecidas como manias infantis, surgem naturalmente durante o desenvolvimento e geralmente não representam motivo de preocupação. Compreender quando esses comportamentos são normais e quando merecem atenção especial ajuda pais e educadores a oferecer o suporte adequado.
A mania infantil funciona como uma ferramenta que a criança utiliza para lidar com emoções que ainda não consegue expressar verbalmente. Esses pequenos rituais proporcionam conforto, segurança e sensação de controle sobre o ambiente. Adultos também desenvolvem manias ao longo da vida, como organizar objetos de determinada maneira ou seguir rotinas rígidas antes de atividades importantes. Na infância, porém, esses comportamentos têm relação direta com o processo de desenvolvimento emocional.
Distinguir uma mania de outros comportamentos repetitivos é fundamental para a abordagem adequada. A mania representa um hábito comportamental que a criança adota conscientemente, mesmo que não perceba sua frequência. Ela escolhe fazer aquela ação porque proporciona algum tipo de alívio ou prazer. Exemplos incluem separar a comida no prato de maneira específica, pisar de forma peculiar nas linhas do chão ou mexer constantemente em algum objeto.
Os tiques, por outro lado, envolvem movimentos involuntários e repetidos. A criança não controla quando acontecem, diferente das manias que ela pode interromper se solicitada. Piscar os olhos rapidamente, fazer sons repetitivos com a garganta ou movimentar alguma parte do corpo sem intenção caracterizam tiques. Esses comportamentos costumam piorar em situações de estresse ou cansaço.
"Observamos que muitas manias infantis aparecem em momentos de transição, como entrada na escola ou mudanças na rotina familiar, funcionando como âncoras emocionais para a criança", explica Juliana Figallo, coordenadora de educação infantil do Centro Educacional Pereira Rocha, em São Gonçalo (RJ).
Comportamentos compulsivos relacionados ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo diferem tanto de manias quanto de tiques. Nesses casos, a criança sente necessidade intensa de realizar determinada ação repetidamente, experimentando angústia significativa se for impedida. Checagens excessivas, rituais que consomem muito tempo ou comportamentos que interferem nas atividades diárias podem indicar questões mais complexas que exigem avaliação profissional.
As manias surgem com maior frequência entre os 2 e 5 anos de idade. Nessa fase, as crianças desenvolvem habilidades motoras, emocionais e sociais rapidamente, enfrentando desafios novos a cada dia. Os comportamentos repetitivos ajudam a processar essas experiências e criar senso de previsibilidade em um mundo que ainda estão aprendendo a compreender.
Situações específicas costumam desencadear ou intensificar manias. Ansiedade diante de novidades, tédio durante períodos de espera, momentos de alegria intensa ou cansaço ao fim do dia são contextos comuns. Crianças que passam por mudanças significativas, como nascimento de irmãos, separação dos pais, mudança de casa ou início da vida escolar, podem desenvolver manias como forma de lidar com as emoções associadas a essas transições.
À medida que crescem e desenvolvem vocabulário emocional mais amplo, as crianças geralmente abandonam essas manias naturalmente. Elas aprendem outras formas de expressar sentimentos e de buscar conforto. Por isso, a maioria das manias infantis desaparece sem necessidade de intervenção, especialmente quando os pais mantêm postura compreensiva e não reforçam negativamente o comportamento.
Alguns sinais indicam que uma mania pode estar causando sofrimento ou interferindo no desenvolvimento saudável da criança. Comportamentos que ocupam tempo excessivo, impedindo brincadeiras ou interações sociais, merecem observação atenta. Manias que causam danos físicos, como roer unhas até sangrar, arrancar cabelos ou morder a pele repetidamente, também precisam de atenção.
A intensidade emocional associada à mania oferece pistas importantes. Se a criança demonstra angústia intensa quando impedida de realizar o comportamento, ou se fica extremamente irritada e ansiosa, isso pode indicar que a mania ultrapassou o limite do normal. Rituais que se tornam cada vez mais complexos e rígidos, exigindo que outras pessoas participem ou que determinadas condições sejam atendidas, também justificam avaliação mais cuidadosa.
Mudanças no humor, no sono, no apetite ou no desempenho escolar associadas às manias sugerem que algo mais profundo está acontecendo. Nesses casos, consultar pediatra ou psicólogo infantil ajuda a identificar possíveis questões subjacentes como ansiedade, TOC ou outros transtornos que se beneficiam de intervenção especializada.
Estratégias eficazes para lidar com manias
Compreender o significado emocional da mania representa o primeiro passo para ajudar a criança. Observar em quais situações o comportamento aparece oferece pistas sobre sua função. Uma criança que roer unhas sempre antes de provas pode estar manifestando ansiedade. Outra que organiza brinquedos obsessivamente após brigas com irmãos pode estar buscando sensação de controle.
Conversas adequadas à idade da criança sobre sentimentos ajudam a desenvolver vocabulário emocional. Perguntas como "como você está se sentindo agora?" ou "o que aconteceu hoje que te deixou assim?" abrem espaço para que a criança expresse emoções verbalmente, reduzindo a necessidade de manifestá-las através de comportamentos repetitivos.
Redirecionar a atenção funciona melhor que repreensões. Quando os pais percebem a criança envolvida na mania, podem propor atividades interessantes que ocupem mãos e mente. Brincadeiras com massinha, desenho, jogos de montar ou atividades ao ar livre desviam o foco sem criar tensão ou vergonha em torno do comportamento.
Objetos de conforto apropriados oferecem segurança emocional de forma mais saudável. Para crianças pequenas, um brinquedo favorito, um paninho ou um travesseiro especial podem substituir comportamentos problemáticos como chupar dedo ou puxar cabelo. Esses objetos transitórios acompanham momentos de estresse, como primeiros dias na escola, e são abandonados naturalmente quando a criança se sente mais segura.
Punições, broncas ou exposição constrangem a criança sem resolver o problema. Chamar atenção negativamente para a mania pode intensificá-la, criando ciclo vicioso de ansiedade e comportamento repetitivo. A criança pode começar a fazer escondido ou desenvolver sentimentos de vergonha que prejudicam sua autoestima.
Ignorar completamente também não representa a melhor estratégia, especialmente se a mania causa desconforto para a criança ou interfere em suas atividades. O equilíbrio está em observar atentamente sem dramatizar, oferecer alternativas sem pressionar e buscar compreender sem julgar.
Comparações com outras crianças ou irmãos que "não fazem isso" prejudicam a relação de confiança. Cada criança desenvolve suas próprias estratégias de enfrentamento emocional, e essas diferenças devem ser respeitadas. Comentários como "seu irmão não faz isso" ou "você já está grande demais para esse comportamento" aumentam a pressão sem oferecer ferramentas úteis.
Ambientes estáveis e previsíveis reduzem a necessidade de comportamentos repetitivos. Rotinas consistentes para refeições, sono e atividades diárias oferecem estrutura que transmite segurança. Crianças que sabem o que esperar de cada parte do dia sentem menos ansiedade e, consequentemente, menor necessidade de rituais próprios.
A comunicação entre família e escola ajuda a identificar padrões. Se uma mania aparece apenas em casa, pode estar relacionada a dinâmicas familiares. Se surge exclusivamente na escola, questões acadêmicas ou sociais podem estar envolvidas. Essa troca de informações permite intervenções mais direcionadas e eficazes.
Professores e educadores que observam manias persistentes ou intensas devem conversar com os pais de forma respeitosa e informativa, sem emitir diagnósticos. Esse diálogo colaborativo beneficia a criança, garantindo que receba apoio consistente em todos os ambientes que frequenta.
Paciência e compreensão formam a base de qualquer abordagem eficaz. As manias infantis geralmente desaparecem naturalmente à medida que a criança amadurece emocionalmente e desenvolve outras formas de lidar com sentimentos complexos. O papel dos adultos é oferecer ambiente seguro, apoio emocional e, quando necessário, buscar orientação profissional para garantir que o desenvolvimento aconteça de forma saudável e equilibrada.
Para saber mais sobre mania infantil, visite https://lunetas.com.br/manias-das-criancas/ e https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/06/08/manias-rituais-e-tiques-na-infancia-quando-e-preciso-se-preocupar.htm