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13/10/2025
Febre, dor de cabeça e gripes são situações comuns na infância e, diante delas, muitos pais recorrem rapidamente a medicamentos. No entanto, o uso de remédios sem orientação médica ou em excesso pode trazer sérias consequências à saúde das crianças. O organismo infantil ainda está em formação e reage de forma diferente ao de um adulto, tornando-se mais vulnerável a intoxicações e reações adversas.
A automedicação é uma prática preocupante entre famílias, muitas vezes motivada pela pressa em aliviar sintomas. Medicamentos vendidos sem receita, como antitérmicos e analgésicos, parecem inofensivos, mas podem causar efeitos graves se usados incorretamente. O fígado e os rins, por exemplo, ainda estão em fase de amadurecimento e têm mais dificuldade para eliminar substâncias químicas.
Um simples erro de dosagem já é suficiente para gerar complicações. Tomar mais comprimidos ou gotas do que o indicado pode sobrecarregar o metabolismo e levar à intoxicação. O mesmo vale para o uso repetido do mesmo medicamento sem orientação médica, o que pode causar acúmulo de substâncias no organismo e comprometer órgãos vitais.
Segundo especialistas, os antitérmicos são os medicamentos mais envolvidos em casos de intoxicação infantil. Quando utilizados de forma inadequada, podem afetar o fígado e causar sintomas como náusea, dor abdominal, sonolência e, em casos mais graves, insuficiência hepática.
O uso contínuo ou exagerado de remédios pode mascarar sintomas importantes e atrasar o diagnóstico de doenças. Quando um analgésico ou antitérmico é usado com frequência para aliviar desconfortos, ele pode esconder uma infecção mais séria que exige tratamento específico.
Além disso, alguns medicamentos interagem entre si, potencializando efeitos colaterais ou anulando o efeito do outro. Essa combinação sem supervisão médica é perigosa e pode agravar o quadro de saúde da criança.
Há também o risco do uso indevido de antibióticos, que leva ao desenvolvimento da resistência bacteriana. Quando o medicamento é usado em doses incorretas ou interrompido antes do tempo prescrito, as bactérias sobrevivem e se tornam mais resistentes, dificultando futuros tratamentos e aumentando o risco de infecções recorrentes.
Observar o comportamento da criança após o uso de um medicamento é uma medida essencial para prevenir complicações. Mudanças de humor, irritabilidade, sonolência excessiva, manchas na pele, enjoo e falta de apetite são sinais que merecem atenção. Caso qualquer reação incomum seja percebida, o uso deve ser suspenso e o pediatra consultado imediatamente.
Os pais também devem manter um controle de todos os medicamentos administrados, registrando o nome, a dosagem e o horário de cada uso. Isso ajuda o médico a compreender melhor o histórico e evita duplicidade de substâncias com o mesmo princípio ativo.
Juliana Figallo, coordenadora de Educação Infantil do Centro Educacional Pereira Rocha, de São Gonçalo (RJ), alerta que o cuidado precisa ir além da dosagem: “O remédio deve ser usado apenas quando há necessidade real e sempre com orientação médica. Em excesso, ele deixa de proteger e passa a prejudicar o organismo infantil”.
De acordo com dados de centros de toxicologia, milhares de casos de intoxicação infantil ocorrem todos os anos, e grande parte deles envolve medicamentos. Muitos desses acidentes acontecem dentro de casa, quando comprimidos e xaropes são deixados ao alcance das crianças.
A curiosidade natural dos pequenos faz com que experimentem o que encontram, sem noção dos riscos. Por isso, guardar todos os remédios em locais altos e trancados é fundamental para evitar acidentes. O simples fato de um frasco ter cheiro ou sabor agradável já pode ser suficiente para despertar o interesse da criança.
A dosagem também é um ponto crítico. Crianças menores têm metabolismo rápido, mas ainda imaturo, o que faz com que pequenas quantidades em excesso tenham efeitos intensos. Um erro de cálculo na administração de gotas, por exemplo, pode causar reações severas em minutos.
Muitos pais mantêm uma “farmacinha” em casa para emergências, o que é compreensível. No entanto, é importante que os medicamentos ali guardados sejam específicos para uso infantil e estejam dentro do prazo de validade. O hábito de reutilizar remédios de tratamentos anteriores é arriscado, pois cada doença exige um diagnóstico e uma dosagem adequada.
Outro equívoco comum é oferecer medicamentos indicados para irmãos ou amigos, acreditando que terão o mesmo efeito. Mesmo entre crianças da mesma idade, o peso, o histórico clínico e a reação ao princípio ativo podem variar, e o que é seguro para uma pode ser perigoso para outra. “O acompanhamento médico é indispensável em qualquer uso de medicamento infantil. A orientação adequada evita erros e garante que o tratamento realmente beneficie a criança”, reforça Juliana Figallo.
Antes de recorrer aos remédios, é importante considerar medidas simples e naturais que podem aliviar desconfortos leves. Em casos de febre baixa, por exemplo, hidratação, repouso e compressas costumam ser suficientes até a avaliação do pediatra. Já nas gripes e resfriados, manter o ambiente arejado, oferecer líquidos e garantir boa alimentação ajudam o corpo a reagir sem necessidade de medicamentos imediatos.
A prevenção também inclui a educação dos próprios pais e cuidadores. Ler a bula, respeitar a dosagem prescrita e nunca interromper o tratamento antes do tempo indicado são atitudes básicas, mas decisivas. Além disso, deve-se evitar administrar medicamentos por conta própria apenas porque “funcionaram antes”. Cada episódio é diferente e requer avaliação profissional.
Outro ponto essencial é não associar o uso de remédios a recompensas. É comum que, para evitar resistência da criança, pais ofereçam doces ou elogios em troca da ingestão. Esse tipo de associação pode criar uma percepção equivocada de que o remédio é algo positivo em si, e não um tratamento que precisa de cuidado.
Existem situações em que o uso de medicamentos é indispensável, como em infecções bacterianas, crises alérgicas ou doenças crônicas. Nessas circunstâncias, o acompanhamento médico garante o equilíbrio entre eficácia e segurança.
O pediatra avaliará o tipo de medicamento, a dosagem exata conforme o peso da criança e o tempo de uso ideal. Cumprir essas orientações à risca é o que assegura o efeito esperado e evita complicações.
A automedicação, por outro lado, ignora essas variáveis e expõe a criança a riscos que poderiam ser totalmente evitados. O ideal é que qualquer decisão sobre o uso de remédios seja tomada em conjunto com o profissional de saúde, que conhece o histórico do paciente e pode ajustar o tratamento conforme a necessidade.
A segurança no uso de medicamentos não é responsabilidade exclusiva dos pais. A escola também deve estar atenta a essa questão, principalmente quando o aluno precisa de remédios durante o horário escolar. A comunicação entre a família e a instituição é fundamental para garantir que o medicamento correto seja administrado na hora certa e na dosagem indicada.
Para saber mais sobre remédios para crianças, visite https://oglobo.globo.com/saude/saiba-quais-sao-os-riscos-de-usar-remedios-em-criancas-sem-orientacao-pediatrica-5106276 e https://brasilescola.uol.com.br/saude-na-escola/perigos-da-automedicacao-em-criancas.htm