08/10/2025
O Dia das Crianças é um lembrete sobre a importância de preservar a essência da infância, garantindo tempo, espaço e escuta para que cada criança cresça de acordo com o próprio ritmo. Quando o adulto reconhece o valor das descobertas simples — uma brincadeira inventada, um castelo de blocos que desaba e recomeça, um desenho que se transforma a cada traço — ele compreende que aprender não é apenas acumular conhecimento, mas construir sentido sobre o mundo. Brincar é parte dessa aprendizagem, e não uma pausa dela.
Durante a infância, brincar organiza o pensamento, dá corpo às emoções e cria pontes entre imaginação e realidade. É na brincadeira que a criança experimenta papéis, testa hipóteses, lida com frustrações e aprende a cooperar. Uma criança que faz de conta ser professora, astronauta ou médica está, na verdade, exercitando habilidades de linguagem, empatia e raciocínio, enquanto aprende a respeitar regras e turnos. Em jogos de tabuleiro, em circuitos criados na sala ou no faz de conta no quintal, o aprendizado acontece de forma natural e prazerosa.
Ao brincar, a criança se percebe capaz de criar e transformar, o que reforça autoestima e autonomia. Por isso, mais do que supervisionar, o papel do adulto é estar presente com interesse genuíno, ajudando a nomear sentimentos e a traduzir situações difíceis.
Quando o adulto diz: “Parece que você ficou frustrado porque o castelo caiu”, ele ensina a criança a reconhecer o que sente e a lidar com isso sem medo. Essa presença atenta, somada ao respeito pelos tempos individuais, fortalece a confiança e torna o ambiente mais propício à aprendizagem. “Valorizar o Dia das Crianças é reforçar o direito de brincar e aprender com liberdade, em um ambiente de escuta e acolhimento”, afirma Juliana Figallo, coordenadora de educação infantil do Centro Educacional Pereira Rocha, de São Gonçalo (RJ).
A escuta verdadeira é um dos gestos mais importantes de respeito à infância. Ela exige tempo e disponibilidade emocional para entender o que cada comportamento comunica, mesmo quando a criança ainda não sabe colocar em palavras. Quando o adulto escuta com calma, sem ironias ou pressa, e responde com previsibilidade e afeto, a criança se sente segura e tende a agir de forma mais cooperativa.
Essa escuta, no entanto, não exclui os limites. Regras claras e consistentes são essenciais para dar estrutura à rotina e transmitir segurança. Elas funcionam melhor quando fazem sentido e quando a criança participa da construção delas — escolhendo, por exemplo, a ordem das atividades, ajudando a guardar os brinquedos ou decidindo entre duas opções possíveis. Como explica Juliana Figallo, “limites não servem para impedir a criança de ser livre, e sim para ajudá-la a compreender que liberdade também é responsabilidade”.
Afeto e firmeza são elementos inseparáveis no processo educativo. O carinho e a atenção dão segurança emocional, enquanto a firmeza ensina que as ações têm consequências e que reparar é parte de conviver. O autoritarismo, ao contrário, quebra o vínculo e gera medo; já a firmeza, quando combinada com empatia, mostra caminhos de crescimento.
Frases como “vamos tentar de novo, eu te ajudo” ou “a gente fala um de cada vez para todos serem ouvidos” ensinam mais do que ordens frias, porque unem cuidado e orientação. O adulto que demonstra coerência entre o que fala e o que faz ensina, pelo exemplo, a respeitar o outro e a lidar com emoções intensas de maneira saudável. Essa coerência também mostra que errar não é o fim, mas parte do processo de aprender — um aprendizado que começa nas brincadeiras e se estende à vida.
A pressa e o excesso de compromissos muitas vezes afastam as crianças daquilo que realmente favorece o desenvolvimento: o tempo descomplicado. O tédio, por exemplo, pode ser o ponto de partida para grandes descobertas, porque convida à criação espontânea. Quando há espaço para o vazio, a imaginação preenche com ideias, desenhos, histórias e experimentações.
Rotinas previsíveis, com horários para brincar, descansar, se alimentar e dormir, ajudam a regular o humor e favorecem o aprendizado. Ter momentos de convivência sem distrações — como refeições sem telas ou caminhadas conversadas — é uma forma simples de mostrar à criança que ela é prioridade. A presença de um adulto atento, que observa sem interromper e apoia sem controlar, é o que dá à infância a sensação de segurança necessária para explorar o mundo.
O Dia das Crianças é, portanto, uma chance de lembrar que o melhor presente é o tempo de qualidade. Um piquenique na sala, um passeio de bicicleta, um teatro improvisado ou um jogo inventado juntos têm valor imensurável, porque geram memórias afetivas e ensinam sobre convivência, criatividade e vínculo.
Respeitar a infância também significa acolher as diferentes infâncias. Cada criança traz consigo sua história, sua cultura e seu ritmo, e reconhecer essa diversidade é essencial para construir ambientes educativos mais justos e ricos. Materiais, brinquedos e livros que representem várias cores de pele, sotaques e tipos de família ajudam a ampliar o olhar e a fortalecer o sentimento de pertencimento.
Em São Gonçalo, uma cidade de muitas vozes e expressões culturais, essa valorização pode acontecer nas pequenas coisas: nas cantigas que atravessam gerações, nas brincadeiras tradicionais das ruas, nas histórias contadas pelos avós e na convivência entre diferentes modos de viver. Quando a criança se vê representada, ela aprende a valorizar o outro e cresce mais segura para expressar o que pensa e sente.
Família e escola têm papel complementar nesse processo. A troca entre os dois espaços — com diálogo constante e respeito às particularidades de cada criança — garante mais coerência nas orientações e fortalece o desenvolvimento emocional e social.
O Dia das Crianças pode ser um ponto de partida para repensar a rotina familiar: há tempo suficiente para brincar? O ambiente permite experimentar e se movimentar? As telas estão ocupando o espaço da convivência? Questões simples ajudam a perceber se a infância está tendo o que precisa para florescer.
Proteger o tempo de brincar é um compromisso que envolve todos — pais, educadores e comunidade. Defender esse direito é garantir que a aprendizagem aconteça com prazer, que as emoções sejam vividas com segurança e que o crescimento preserve curiosidade e alegria.