06/10/2025
Nem todo medo de escuro é sinal de fobia. Em muitas situações, trata-se apenas de uma etapa comum do desenvolvimento infantil. Entre os três e sete anos de idade, é natural que as crianças demonstrem desconforto em permanecer em ambientes sem luz. A imaginação nessa fase é intensa, e a ausência de referências visuais pode gerar insegurança. Com o tempo, esse receio tende a diminuir e, em grande parte dos casos, desaparece sozinho.
A fobia, por outro lado, se caracteriza por um medo persistente e desproporcional, capaz de provocar sintomas físicos e comprometer a rotina da criança. A chamada nictofobia vai além da simples recusa em dormir no escuro: ela gera pânico, palpitações, suor, tremores e até sensação de falta de ar. Crianças com esse quadro podem apresentar resistência extrema em ficar em locais com pouca iluminação e demonstrar ansiedade antecipatória, ou seja, medo só de pensar na possibilidade de estar em ambientes escuros.
A distinção entre medo comum e fobia está na intensidade e na duração das reações. Se a criança se assusta, mas consegue ser tranquilizada com relativa facilidade, é provável que seja apenas medo. Quando, porém, o desconforto gera crises frequentes, noites mal dormidas e impactos em atividades cotidianas, pode indicar um transtorno específico.
Um exemplo prático: a criança que pede uma luz acesa para adormecer, mas consegue relaxar depois, está dentro do esperado para sua idade. Já aquela que chora intensamente, se recusa a entrar em locais escuros ou apresenta sintomas físicos de pânico, pode estar lidando com a nictofobia. É nessa diferença que pais e educadores precisam ficar atentos.
“É importante que os adultos reconheçam quando o medo deixa de ser parte do desenvolvimento e passa a ser um sofrimento real para a criança”, afirma Juliana Figallo, coordenadora de educação infantil do Centro Educacional Pereira Rocha, de São Gonçalo (RJ).
A nictofobia pode comprometer a qualidade do sono, dificultar a autonomia da criança e gerar problemas no convívio familiar. Muitas vezes, os pais precisam se manter ao lado do filho até que ele adormeça, ou mantêm as luzes acesas a noite toda. Essa rotina desgastante pode afetar também a dinâmica da casa e a saúde emocional dos adultos.
Além disso, crianças com fobia de escuro podem desenvolver baixa autoestima, uma vez que percebem sua reação como desproporcional em relação aos colegas. Em alguns casos, a ansiedade noturna se estende para outras áreas, como dificuldade de ficar sozinha em determinados ambientes ou medo de explorar situações novas.
Segundo especialistas, fobias não tratadas podem evoluir e impactar o bem-estar ao longo da vida. Por isso, identificar cedo e intervir de forma adequada é essencial para que o medo não se torne uma barreira ao desenvolvimento.
O apoio da família é um dos fatores mais importantes para enfrentar o problema. A primeira atitude é validar os sentimentos da criança. Dizer frases como “não há nada para ter medo” pode soar como desvalorização, aumentando a angústia. Reconhecer que o medo existe e mostrar disposição para ajudar cria um espaço seguro para diálogo.
Outro ponto é introduzir a escuridão de forma gradual. Abajures e luzes noturnas podem ser aliados no processo, permitindo que a criança se sinta protegida. Pequenos desafios, como ler um livro em um ambiente suavemente iluminado, ajudam a construir confiança aos poucos.
Histórias tranquilizadoras e rotinas consistentes na hora de dormir também contribuem para reduzir a ansiedade. Evitar conteúdos assustadores, como filmes ou jogos de terror, é essencial para que o imaginário da criança não seja alimentado de forma negativa.
“Dar tempo, acolher e oferecer segurança são passos fundamentais nesse processo. A criança precisa sentir que não está sozinha diante de seu medo”, completa Juliana Figallo.
Nem sempre o suporte da família é suficiente. Se a fobia persiste por muito tempo e começa a interferir significativamente na vida escolar, no sono e nas relações da criança, procurar ajuda especializada é recomendado. Psicólogos infantis podem avaliar o quadro e propor estratégias terapêuticas adequadas.
Entre as abordagens mais eficazes está a terapia cognitivo-comportamental, que auxilia a criança a compreender seus pensamentos e a desenvolver novas formas de enfrentamento. Esse processo não elimina o medo da noite para o dia, mas oferece ferramentas para que a criança aprenda a lidar com ele de maneira saudável.
Ainda que o problema se manifeste principalmente em casa, a escola tem papel importante no apoio emocional. Professores e coordenadores podem observar comportamentos de ansiedade, como cansaço frequente, dificuldade de concentração e sinais de medo em situações inesperadas. Compartilhar essas percepções com a família contribui para que o acompanhamento seja mais completo.
Além disso, ao trabalharem atividades que incentivam a autonomia e a confiança, os educadores colaboram para fortalecer o equilíbrio emocional dos alunos. Esse suporte não significa expor a criança ao escuro de forma direta, mas ajudá-la a desenvolver segurança em outros aspectos de sua vida, reduzindo o peso do medo em seu cotidiano.
É importante destacar que sentir medo não é algo negativo em si. O medo é um mecanismo natural de proteção e aprendizado. No caso das crianças, ele pode até mesmo ajudar no desenvolvimento da imaginação e na compreensão dos limites entre realidade e fantasia.
A questão central é quando esse medo ultrapassa a função de alerta e se transforma em algo paralisante. Nesse ponto, diferenciar o medo do escuro de uma fobia passa a ser um cuidado essencial para o bem-estar infantil.
Com acompanhamento adequado, paciência e estratégias de acolhimento, a maioria das crianças consegue superar a nictofobia e retomar uma rotina tranquila. A chave está em oferecer apoio sem julgamentos, promovendo segurança e confiança em cada etapa do processo.
Para saber mais sobre fobia, visite https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2021/08/o-que-e-nictofobia-5-pontos-para-entender-o-medo-do-escuro.html e https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2013/09/seu-filho-tem-medo-do-escuro.html