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24/09/2025
A discalculia é um transtorno específico de aprendizagem que interfere diretamente na capacidade de compreender números, operações e conceitos matemáticos. Mais do que um simples desafio com a matemática, trata-se de uma condição neurológica que altera a forma como o cérebro processa informações numéricas e simbólicas. Pesquisas estimam que entre 3% e 6% das crianças em idade escolar podem apresentar esse transtorno, e a falta de conhecimento sobre o tema muitas vezes faz com que sinais sejam ignorados ou confundidos com falta de esforço, o que agrava ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo estudante.
Os primeiros indícios de discalculia podem surgir ainda na educação infantil, quando a criança tem dificuldade para contar corretamente, para associar números a quantidades ou para compreender conceitos simples como “mais” e “menos”. Ao ingressar no ensino fundamental, esses sinais tornam-se mais evidentes: a criança pode demorar muito para aprender a tabuada, não memorizar somas e subtrações básicas ou se perder facilmente em cálculos mentais. Já na adolescência, quando a matemática exige interpretação de gráficos, uso de fórmulas e compreensão de conceitos abstratos, o quadro tende a se agravar se não houver intervenção, afetando o desempenho acadêmico e a autoestima.
Andressa Côrtes, diretora pedagógica do Centro Educacional Pereira Rocha, em São Gonçalo, destaca que identificar os sinais precocemente faz toda a diferença para o desenvolvimento do aluno. Segundo ela, quando a dificuldade é interpretada como desinteresse ou preguiça, a criança pode se sentir desmotivada e incapaz, o que aumenta a ansiedade e o risco de isolamento escolar. “O reconhecimento da discalculia é essencial para que o estudante receba o apoio adequado e não acumule lacunas de aprendizado que comprometam sua autoconfiança e seu futuro acadêmico”, afirma.
Sintomas mais comuns
Entre os sintomas mais comuns da discalculia estão a dificuldade em relacionar números a quantidades, a confusão com símbolos matemáticos, a dificuldade para entender sequências numéricas e a lentidão para resolver cálculos mentais. Em muitos casos, o estudante utiliza os dedos para realizar operações simples, mesmo quando já deveria ter memorizado determinados conceitos. A interpretação de problemas matemáticos escritos, que exigem leitura e raciocínio ao mesmo tempo, também costuma ser um grande desafio. Quando a dificuldade se prolonga sem diagnóstico e apoio adequados, a matemática passa a ser associada a frustração e ansiedade, criando um ciclo de baixa autoestima e desmotivação.
O diagnóstico da discalculia deve ser feito por profissionais especializados, como psicólogos e neuropsicólogos, por meio de avaliações que analisam a capacidade da criança de compreender números, interpretar símbolos, resolver problemas e usar estratégias de cálculo. Esses testes também ajudam a descartar outras causas, como lacunas no ensino, dificuldades de atenção ou questões emocionais que possam influenciar o desempenho escolar. O processo de avaliação inclui entrevistas com pais e professores, observação do comportamento em sala de aula e aplicação de instrumentos específicos que permitem entender o perfil de aprendizagem da criança.
A confirmação do diagnóstico é apenas o primeiro passo. A partir daí, inicia-se o planejamento de estratégias que vão desde adaptações pedagógicas até apoio psicopedagógico e uso de recursos visuais e tecnológicos. Andressa Côrtes explica que cada estudante tem necessidades próprias e que, por isso, a abordagem deve ser personalizada. Segundo ela, quando escola e família trabalham juntas, os resultados são mais consistentes, pois o estudante sente-se acolhido e seguro para enfrentar os desafios da aprendizagem matemática.
No ambiente escolar, algumas adaptações podem facilitar bastante a vida do estudante com discalculia. Professores podem oferecer mais tempo para a realização de provas, dividir exercícios complexos em etapas menores e usar exemplos do cotidiano para contextualizar os problemas matemáticos. Recursos como jogos educativos, materiais concretos e aplicativos interativos ajudam a tornar a aprendizagem mais dinâmica e menos abstrata, permitindo que a criança construa os conceitos matemáticos de forma gradual e significativa.
Em casa, os pais também desempenham papel fundamental. É importante evitar críticas e comparações com outros estudantes, valorizando cada conquista e incentivando a criança a persistir diante das dificuldades. Reforços positivos, paciência e apoio emocional são tão importantes quanto as intervenções pedagógicas, pois ajudam a reduzir a ansiedade e a criar uma relação mais saudável com a matemática. Quando a criança percebe que tem o suporte da família e da escola, sente-se mais confiante para enfrentar os desafios e se engajar no processo de aprendizagem.
Não ignore os sinais
Ignorar os sinais de discalculia pode trazer consequências para além do ambiente escolar. Crianças que não recebem diagnóstico e apoio adequados podem desenvolver baixa autoestima, evitar atividades que envolvam números e sentir-se incapazes em outras áreas do conhecimento. Na vida adulta, tarefas simples como administrar dinheiro, interpretar contratos ou calcular prazos podem tornar-se grandes obstáculos, afetando a autonomia e até mesmo as oportunidades profissionais.
Por outro lado, quando há diagnóstico precoce e estratégias bem definidas, os resultados são positivos. O estudante aprende a lidar com suas dificuldades, descobre formas alternativas de compreender os conceitos matemáticos e recupera a confiança em suas capacidades. A matemática deixa de ser uma fonte de medo e frustração para tornar-se uma área de aprendizado possível, desde que o ensino seja adaptado ao ritmo e às necessidades de cada aluno.
A discalculia não deve ser vista como um impedimento para o sucesso acadêmico, mas como uma condição que exige compreensão, paciência e métodos de ensino diferenciados. Com informação adequada, envolvimento da família e apoio da escola, é possível garantir que crianças e adolescentes com discalculia desenvolvam não apenas habilidades matemáticas, mas também a autoconfiança e a motivação necessárias para aprender e crescer de forma plena.
Para saber mais sobre discalculia, visite https://institutoneurosaber.com.br/artigos/discalculia-quando-a-dificuldade-com-a-matematica-e-um-disturbio-de-aprendizagem/ e https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/criancas/discalculia-em-criancas-o-que-e-como-identificar-e-tratar,29b36ac951352311a7200862b613bdabnjifb1at.html#google_vignette